Nota baixa de alunos de Florianópolis
Secretário de Educação de Florianópolis, Thiago Mello Peixoto, afirmou que o plano prevê medidas básicas, mas com ênfase no aprendizado dos alunos (Foto: Estela Benetti)
Desafio do ensino municipal de Florianópolis é elevar o aprendizado, trabalho que é dos professores, mas as famílias e a sociedade devem colaborar e acompanhar. O tema foi discutido pelo Floripa Sustentável
Ao assumir o segundo mandato neste ano de 2025, o prefeito de Florianópolis, Topazio Neto, definiu como uma das prioridades melhorar a nota média da educação do município. Para isso, escolheu para secretário de Educação um dos maiores gestores do país na área, o economista e mestre em Administração pela Universidade de Harvard, Thiago Mello Peixoto. O novo plano de educação, o Floripa Mais Aprendizagem, está em implantação, mas o primeiro teste para avaliar aprendizado preocupou: 97% dos alunos do 9º ano não sabem o suficiente matemática. Isso exige foco maior nas salas de aula e apoio das famílias e da sociedade.
Esse dado de aprendizado foi um dos apresentados pelo secretário Thiago Peixoto e causaram preocupação durante palestra e debate na reunião-almoço do movimento Floripa Sustentável, no Hotel Majestic, nesta terça-feira (13). Outro dado que ele destacou foi que nos anos de 2010 e 2011, Florianópolis estava em 1º lugar na nota do índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) entre as capitais brasileiras. Agora, caiu para o 15º lugar.
– Nós temos uma boa equipe de gestão, mas um grande desafio; nossos diretores têm que olhar menos para a infraestrutura e mais para a aprendizagem. Nós queremos que os nossos diretores deixem de ser os zeladores e priorizem a aprendizagem em cada unidade escolar – afirmou o secretário de Educação.
O Plano de Aprendizagem 2025 da prefeitura de Florianópolis tem sete metas: 1- Expansão da carga horária de aulas; 2 – Priorização do currículo e material didático; 3 – Trilha formativa de professores; 4 – Uso pedagógico de avaliações formativas e somativas; 5 – Trilha formativa de gestores com foco na gestão da aprendizagem; 6 – Acompanhamento pedagógico; e 7 – Acompanhamento e incentivo à frequência.
– A gente tem um plano estruturante e um plano de curto prazo com sete iniciativas que já estão sendo implementadas. Elas são básicas, mas não são fáceis de implementar. Falando de uma rede de ensino, falando de políticas públicas, as resistências existem – afirmou o secretário.
Ao mesmo tempo em que trabalha para implementar essas medidas, a secretaria também decidiu fazer mais avaliações. Fará três avaliações por ano para que a execução seja trabalhada a fim de que os estudantes aprendam mais. Essa divulgada com a nota baixa em matemática foi a primeira avaliação do ano.
O secretário reconhece que executar um plano de educação com aprendizado elevado é difícil em qualquer lugar do mundo, por isso está sendo difícil também em Florianópolis.
Após a palestra do secretário foi realizado um debate sobre os desafios da educação, que teve como painelistas o diretor de Políticas Públicas do movimento Todos pela Educação, Gabriel Barreto Corrêa, o presidente do Conselho Municipal de Educação Neri dos Santos e o auditor do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Renato Bossle Miguel.
O TCE passou a cobrar mais de todos os municípios qualidade dos serviços prestados e, agora, está recomendando também a adoção da Política Nacional de Educação Digital, instituída por projeto de lei da então deputada Angela Amin, ex-prefeita de Florianópolis. Para Gabriel Corrêa, essa atenção do TCE e acompanhamento da sociedade civil por meio do movimento Floripa Sustentável é raro no Brasil.
O coordenador do Floripa Sustentável, empresário Roberto Costa, disse que a entidade vai acompanhar com maior atenção a evolução desses esforços pela melhoria da educação, mas vai dar um tempo para a apresentação de resultados positivos. Segundo ele, Florianópolis também tem grandes desafios em saneamento e mobilidade.
– A gente vai ter que estabelecer um prazo. Como o secretário disse que as coisas têm que ser a curto prazo, eu imagino que até o final desse ano ainda a gente possa ter um outro evento para ver como foi a evolução. Esses dados sobre o baixo aprendizado em Florianópolis me surpreenderam. Eu não esperava isso – afirmou Roberto Costa.
Quem ensina efetivamente são os professores qualificados nas salas de aula ou de outra forma. Mas diante da importância estratégica da educação, é fundamental que os pais se envolvam diretamente no acompanhamento do aprendizado e que a sociedade civil também participe. Foi com esse foco que surgiu o movimento “Todos pela Educação”, em que participa Gabriel Corrêa.
Por que o aprendizado é fundamental
A qualidade do aprendizado tem sido um desafio há muitas décadas no Brasil. Algumas cidades ou estados têm evoluído mais, com notas mais altas no Ideb. Mesmo assim, o país está entre os últimos colocados na pesquisa de PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A pesquisa PISA avalia aprendizado de jovens de 15 anos de cerca de 70 países em matemática, leitura (português) e ciências. Na última, de 2022, o Brasil ficou no 53º lugar em matemática, 65º em leitura e 62º lugar em ciências.
A OCDE faz essa pesquisa porque conhecimento é estratégico para o desenvolvimento econômico. Quanto maior o aprendizado dos alunos, mais condições de inovação os profissionais terão e assim, o país terá uma economia mais competitiva e com mais renda, incluindo mais impostos para o pagamento das despesas públicas, que são crescentes com um maior número de aposentados e outros custos.